A natureza artística das touradas (1/2)

AutorArnaldo Ourique
Cargo do AutorLicenciado, Pós-Graduado e Mestre em Direito, Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
Páginas44-46
44
2.15 A natureza artística das touradas (
18)
Por lei sabemos nos Açores o que seja uma tourada artística: são aquelas que estão
previstas no decreto legislativo regional 11/2010/A, as que são feitas em praça de touros:
corrida de touros, novilhada, novilhada popular, corrida mista, festival taurino, variedade
taurina e todas as que a direção regional da cultura, com o parecer da comissão regional da
tauromaquia, autorizar; acrescem a estas a novilhada popular e a variedade taurina que
sejam realizadas em tentaderos. A novilhada popular e a variedade taurina são, segundo a
lei, “divertimento público taurino”, as restantes “espetáculo tauromáquico”. Ou seja, o que
for realizado em praça de touros ou em tentadero é uma tourada artística.
Também por lei sabemos nos Açores o que não é tourada artística: as que estão previstas
no decreto legislativo regional 37/2008/A (12/2010/A e 20/2011/A): tourada à corda,
espera de gado, largada, entrada de gado bravo, vacada em cerrado e bezerrada. São,
segundo a lei, meras “manifestações de carácter popular”.
Por aqui desde logo percebe-se o critério da distinção entre o artístico e o não artístico: a
mera separação entre o que é tradicional de rua e o que é tradicional de espaço apropriado.
Que é o mesmo que dizer que não há rigorosamente um critério artístico propriamente dito.
Por que motivo uma novilhada popular num tentadero é artístico e uma tourada à corda não
o seja? Por que motivo o “divertimento público taurino” e o “espetáculo tauromáquico” é
artístico e não o seja a “manifestação de carácter popular”? Os Açores, sobretudo a Ilha
Terceira, tem uma aficion verdadeiramente invejável; mas os Açores, sobretudo o
legislador, tem um pensamento tristemente invejável.
Compreende-se essa distinção. Nas conversas vamos percebendo a cultura taurina: o que
gosta do toureio a pé menospreza o toureio a cavalo, «não tem arte», diz; o que gosta de
tudo o que é de praça nem quer ouvir falar em tourada à corda, «não tem sabedoria», diz.
Aliás a expressão “cultura taurina”, num certo patamar de pensamento, não é utilizável
para a tourada à corda. E, no entanto, não estaremos todos enganados?, não será afinal toda
a cultura taurina uma forma de arte, nuns casos mais formal e noutros menos?
18 Publicado em 10-07-2011-

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